quinta-feira, 8 de maio de 2008

Para Serge Gainsbourg no dia em que faria 80 anos

era bom eu saber
se no futuro continuarás
a arranhar-me as costas
sem eu to pedir
que na rua puxes para ti o meu braço
como na cama me procuras o sexo
que apontes o painel luminoso
de uma pensão sórdida
para subir a outro quarto húmido
que me montes
quando chego a casa esgotado
e eu chamando-te vaca
tu me respondas boi
que às vezes me apontes um revólver
fazendo ar sério
um amor cego pelo fumo
e adoçado com música
que me peças para ainda não cortar
a barba com três dias
porque é assim que tu gostas
e quando eu já estiver estragado
ainda me queiras
triste e traste
que ao deitar fiquemos silenciosos
como duas folhas secas
que se desprendem
e caem ao chão
depois vermos fotografias do tempo
em que éramos bonitos
e sem darmos conta
adormecer em paz


Hugo Roque