O tempo é a esperança dos inactivos.
Uma cadeira de baloiço onde o pensamento adormece.
Atravessava os dias como se enchesse sacos de paciência
preciosidades existenciais para servir de cultura aos amigos.
Colecções de ódios sobre a mesa da discórdia.
As razões que reclamava para si
eram tão válidas como antiguidades falsas.
Tudo estava avariado na sua mente de relógio.
Os amigos escutavam-no pacientes à volta das palavras
que aprisionavam a temática da vida e do amor.
Não por medo mas por respeito pelo calendário das ideias apresentadas.
Muitas mentiras a brilhar nas folhas
que protegiam do calor o pátio em ruínas.
O riso do tempo ouvia-se no silêncio de quem o escutava
e a verdade voava dali para fora num alívio de liberdade.
Tão pura como as aves que pousavam desconfiadas
nos ramos da sabedoria humana.
E ele falava para que o tempo fugisse com ele para sempre.
Porque seria o tempo o transporte da sua imobilidade crónica
o grande mestre da loucura que ele representava
em sessões de rotinas para criar tonturas nos dias que passavam.
Como uma doença dizia ele como uma doença.
Chegavam os amigos e rodeavam-no com perguntas sobre o tempo.
Jovens mulheres com o ciclo do juízo atrasado
encantadas por verificar que o tempo é uma mente sem corpo.
E depois sentiam-se abstractas e dominadas pelo artifício da lição.
Os corpos expostos numa expectativa burlesca.
O tempo que ele sempre imaginara a ganhar forma humana
porque o tempo que marcava as fases da sua vida eram os outros.
Prisioneiros amarrados com palavras num sufoco de atenção.
Nem esperança nem tempo numa cadeira de morte
em face dos seus esquemas de empreendedor em acções imaginárias.
e o tempo a adormecer-lhe a vida se um dia a sua mente o abandonasse.
Fernando Esteves Pinto