segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Da tarde

O sol cai a contrapeso
lentamente
moribundo
decidido a esvair-se em raios de vermelho vivo
na estrada, no basalto do passeio
nas águas paradas da capitania
num espelho e num olhar.

Ergue-se a lua,
juntando os estilhaços dispersos na ria,
apresenta as duas faces,
na água e no céu,
escaveiradas e distantes
(ainda distantes)
a superior e a inferior,
a universal e aquela
que propriedade se torna
desta tarde desta cidade desta caneta

Ceptro e manto régio por horas seus,
horas não estas,
as da noite
caso noite houvesse para lá disto:
as variações súbitas, fugazes e indeléveis a seis mãos
sol, lua e Ria.

António Ramos Pereira