terça-feira, 24 de junho de 2008

Vista sobre uma paisagem industrial.

Acordei com os secadores de cabelo,

os passos, as portas a bater
e a canalização deficiente
(ouve-se tudo nestes pardieiros)
quando abri a janela
bateram-me nos olhos as gruas da Lisnave
e um odor a ferrugem
colou-se-me ao céu da boca
em baixo
um rectângulo verde e irregular
de horta bem cuidada e quebradiça
paralela à avenida
disparo uma cuspidela
que sobrevoa as couves
bulindo enérgicas
a monóxido de carbono
sinto atrás de mim
as cortinas bolorentas
e enrijeço os braços
contra o parapeito espetados
beija-me o pescoço
e os ombros salgados
as unhas cravadas roubam à madeira
pedaços do amarelo
mas interrompe-se
e de voz embrutecida
pergunta
- também ouviste o galo?


Hugo Roque