Há ferrugem na minha boca
a nódoa de um beijo antigo.
E os meus olhos estão a ficar vermelhos,
a minha boca é cola
e as minhas mãos são duas pedras
e o coração,
ainda lá está,
aquele lugar onde o amor morou
mas está pregado no sítio.
Mas eu não tenho pena por estas extravagâncias,
de facto o sentimento é de ódio.
Porque é apenas a criança em mim a irromper
e eu continuo a conspirar em como a matar.
Outrora havia uma mulher,
cheia como um teatro da lua
e o amor gerou amor
e a criança quando espreitou,
não se odiava nessa altura.
Estranho, estranho, o que tu fazes amor.
Mas hoje eu vagueio numa casa morta,
uma cozinha congelada, um quarto
como uma câmara de gás.
A cama é uma mesa de operações
onde os meus sonhos me cortam em pedaços.
Ó amor,
o terror,
a peruca do terror,
que a tua querida e encaracolada cabeça
era, era, era, era.
Anne Sexton
tradução de Maria Sousa