segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

diários de Spartacus

I
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aqui o teu rosto é feito sem o comércio do coração. o que virás a receber neste local é a desapropriação do espaço em redor do teu corpo. vais poder mentir inteiramente e jurar que acreditas na tua beleza. não é urgente decidires aqui se a filiação gestante do teu sexo também abraça um sentimento: de todas as formas, é ao acaso que lanças a orfandade do teu silêncio, porque ninguém fala. pouco importa que na morte se habite tanto, dizem-te, o anonimato é a única dor possível. aqui a identidade é um jogo de impunidades, o desejo é apenas a ressurreição de um nome que se deixou morrer, traído. qualquer corpo servirá como mártir porque aqui é na morte que se habita tanto.
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II
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spartacus,

tocaste esse corpo e magnificaste-o na tua boca até sentir que o seu nome
era um império líquido e soberano. era como se a língua emigrasse
para o lado sagrado e intraduzível da pele
e obedecias ao espasmo.
o sémen acabou por descer pelas mãos em busca de uma flor

que essa flor esteja morta pouco importa.
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III
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tocaste o corpo masculinamente porque é
da natureza das pedras serem masculinas.
essa masculinidade das veias em que consistem as partes baixas,
o corpo
pede-te que sangres como o corpo de uma mulher.
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IV
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o sexo é uma cruz explosiva ao peito da noite, visto de longe.
os corpos amontoam-se em redor de segredos apócrifos
no chão que arde.
As línguas invertem o sentido das marés, dos ventos
e dos trabalhos climáticos da paixão.

Os beijos dão-se às escuras do coração.

Adoram Spartacus.


Nuno Araújo