quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Um dia vais passar

Pensas que és só tu que eu vou enrolando sem cessar como a um novelo de lã, cobiçado por qualquer gato como o Flint, que olha para mim?
Sabes, já não existes tão sólido.
Estamos ambos mais gastos e desbotados.
Nós é que nos enrolamos como a novelos, como a um cigarro, daqueles que nem sempre fumamos.
Que ficam esquecidos num cinzeiro, à espera.
Sempre à espera que alguém os salve da triste cinza que inevitavelmente os consumirá.
Depois, ficam para sempre amarrotados, num cinzeiro frio.
Só serviram para dar prazer e matar um pouco de alguém.
Assim somos nós.
Vamos, quase sem querer, matando, esfumaçando, consumindo para nós a vida de alguém.

Rita Branco Jardim