sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

regresso na hora das empregadas da limpeza
dos serventes de trabalhos distantes
das enfermeiras, das balconistas
e, coberta por uma maquilhagem já poída, não distingo suores
humores fétidos, as roupas engelhadas das mulheres
as mãos sujas dos homens
enquanto o comboio atravessa, uma após outra sem paragem,
estações vazias para as quais não tem passageiros.
regresso na hora das horas exangues
mas tagarelam raparigas
calados os rostos deles contra a janela, eu escrevo
numa actividade lânguida mãos bordam panos de cozinha
toalhas de mesa de renda crescente
casaquinhos minúsculos para crianças ausentes
e o revisor contempla a linha que o devolverá a casa
e que avista pela porta entreaberta em cada estação vencida.
sabendo que me aguardas
no cais mal iluminado onde nos encontrámos, pergunto-me
se a carcassa desta máquina roufenha perder
o registo dos lugares que estruturam o seu percurso
e, por uma outra escuridão fora,
continuar infame liberta desvairada?

Cláudia Santos Silva