terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Já vai longe o homem sozinho
parece pequeno daqui
imerso no ar da grande procura

Pedro Castro


Um rapaz saiu de casa com o propósito de se fazer homem. Juntou a sua tralha, só o essencial: um mapa, um livro, uma esferográfica e um diário na mochila; na algibeira uma fotografia dos pais e um postal de um sítio desconhecido, uma ilha, onde quer instalar-se a beber água de coco e apanhar sol na cara. Lá na terra dele faz muito frio e nunca provou frutos tropicais. O pai ofereceu-lhe uma bússola para que não se perdesse. A mãe deu-lhe uma jóia de família para que nunca se esquecesse da sua casa na árvore genealógica.
O rapaz sai com as suas coisas essenciais e os seus pais ficam mudos à porta, vendo-o afastar-se até ser do tamanho de um dedo, iludindo-se com a ideia de poder agarrá-lo com a mão inteira. Mas não podem e o rapaz continua a sua ida sem hesitar.
Caminha sobre os anos que passam, de cidade em cidade, até chegar à beira do mar. Muito grande, muito azul, muito só, pareceu-lhe. Pagou uma viagem de barco, sentou-se no seu lugar e, quando levou as mãos aos bolsos, encontrou a fotografia dos seus pais. Desenrolou-a, espantando-se ao ver que pareciam ter o tamanho de um dedo e desejou, nesse momento, poder agarrá-los com a sua mão. Procurou o postal que também deveria estar num daqueles bolsos mas não o encontrou. Perguntou-se se já seria um homem. Tentou responder "sim" mas não conseguiu provar a data em que isso aconteceu.

Ana Antunes