quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Hotel

Uma cama, uma janela, uma garrafa de vodka. E nós. Nós a fingir que queremos fugir das nossas vidas, que precisamos de. Nós a fingir ser grandes porque nos sentimos pequenos. A querer ser pequenos porque já nos vemos grandes de mais e dói ver. A fuga fez-se de papéis, de bocados deles, de noites com estrelas até de manhã, de bicicletas e de amor. Do amor que queríamos sentir, que queríamos ter, que queríamos poder. E que nunca pudemos por estarmos sozinhos. Sempre sozinhos um com o outro, a lembrar o quente, o cheiro, a carne e os corpos que um dia partilhámos ao apagar da luz. Fomos tudo e agora nada.
Agora partilhamos sonhos em que não acreditamos, beijos que não sentimos, poesia que quisemos fazer.
Somos só isso e por isso brindamos.
Vamos ficar sentados no parapeito com copos e figos verdes e eu sei que vai ser uma noite tão boa como outra qualquer.

Rita Branco Jardim