segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

agora que sei
as palavras
não lhes encontro um alinhamento que coincida com o sentido cardíaco da minha existência.

vejo
as palavras
na verticalidade de uma estante,
em prateleiras
arrumadas,
como se estivessem fora de estação.

agora não dói
não emudeço mais,
apenas
fico assim contigo
a tactear o silêncio.


*

Exerço muitas vezes o ofício de estrangeira,
com pouca fé de que na impossibilidade da língua
se entenda a natureza dos meus gestos.

*

Dificilmente reconheceria um outro universo para além deste,
feito de retratos, músicas e poemas
onde por dentro de demorados silêncios,
foi impossível escapar à tristeza.


Marta Chaves