domingo, 26 de abril de 2009



Um livro cada domingo. Desta vez não é livro, é revista, criatura de seu nome. Chegou em Abril ao número 3, facto de assinalar em tempo de rarefacção de poesia. Ao contrário dos poetas revelados nos anos 1990 (entre outros: Ana Luísa Amaral, Fernando Pinto do Amaral, Luís Quintais, Manuel de Freitas, Pedro Mexia e Rui Pires Cabral), que puderam contar com editores abertos às suas propostas, jornalismo cultural atento, uma bateria de críticos da mesma geração e cumplicidades institucionais de vária índole, os que chegam agora têm de seguir o protocolo de regra: publicações artesanais fora do circuito dominante, edições de autor, visibilidade restrita a círculos de iniciados. Não tem mal que assim seja. O tempo se encarregará de fixar os melhores. A nova revista é disso exemplo. Organizada pelo Núcleo Autónomo Calíope da Faculdade de Direito de Lisboa, com o apoio da Associação Académica, criatura é dirigida por Ana M. P. Antunes, David Teles Pereira e Diogo Vaz Pinto. Além de portugueses, a revista publica autores de expressão ibérica, que neste número são dois: Ben Clark (Ibiza, 1984) e Elena Medel (Córdoba, 1985). Sobre os portugueses, nenhuma referência de natureza biobibliográfica. Têm 20 anos? Têm 50? (Um deles anda lá perto.) Isto não é mania. Como é que podemos, com propriedade, falar de uma revista de novos, se nada o garante? Podemos ir por aproximação ou presunção, mas não chega. A uma primeira leitura, diria que Cláudia Santos Silva apresenta (em particular do ponto de vista formal) o discurso mais consistente. E que os poemas de David Teles Pereira [ex: 1.LX] e Diogo Vaz Pinto, [ex: “No metro, em pé, ainda a acordar no abafo subterrâneo”] no largo fôlego dos respectivos enunciados, podem vir a ser grandes poemas no dia em que os autores forem capazes de os limar. A ideia da prosa dos versos é tentadora... mas não cai do céu. Isto dito, sublinhar o óbvio: o mais difícil, que é começar, está feito.

- Eduardo Pitta